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Desigualdade de género

por Inês Teotónio Pereira, em 26.03.15

O meu filho mais novo gosta de cães, de carros, de bolas, de tachos e de tangerinas. Tem um ano e meio e é rapaz. Tenho esperança, em nome da igualdade de género, que daqui a pouco tempo também de afeiçoe a bonecas, bebés chorões, lacinhos, pulseiras, colares e quem sabe à Violleta. Ou isso ou então quer dizer que estou a criar um machista. 

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publicado às 11:33

Pai herói

por Inês Teotónio Pereira, em 26.03.15

No i de sábado 

 

Quando o meu pai chegava a casa corríamos todos para ele. Chegava quase sempre com um sorriso que se mantinha apesar do dia, dos problemas, do trânsito ou das chatices que tinha vivido. O meu pai gostava de chegar a casa. E isso, para nós, chegava. Ele gostava de nos ver, de nos abraçar, de nos fazer cócegas e principalmente de abraçar a minha mãe. O meu pai tocava piano fazendo caretas cómicas e também tocava guitarra abstraindo-se do frenesim típico de uma casa com nove filhos. O meu pai só lia o jornal ao fim do dia, sentado na cadeira que era só dele e apesar do barulho da televisão. Só nos mandava calar para ouvir o telejornal e só perdia as estribeiras com a política – muitas vezes, portanto. Também falava muito. Adorava falar, contar histórias e partilhar o que lhe tinha acontecido todos os dias. Nós eramos a sua casa, o seu mundo, a sua vida.

Tive a sorte de crescer assim. Cresci com um pai que trazia amor para casa, boa disposição, emotividade, verdade e sabedoria. Um pai que tinha preocupação de dar e não de receber, que gostava de partilhar e que tinha a preocupação de nos ensinar os valores nos quais acreditava. Ele tinha urgência em partilhar todos os dias ao jantar aquilo que achava importante os filhos aprenderem para um dia escolherem ser aquilo que quisessem. O meu pai não me perguntava pelas notas, não sabia as festas que eu tinha, não opinava sobre as minhas roupas e não me questionava sobre os meus estados de alma. Ao pé do meu pai eu era livre de ser quem era, de estar bem ou mal disposta, sem julgamentos, pressões ou exigências. O meu pai não me exigia resultados, pedia-me esforço, que amasse a vida e que reconhecesse o privilégio da família que tinha. Em troca, tinha-o a ele. Generoso, justo e alegre.  

O meu pai chorava a rir. Caiam-lhe lágrimas pela cara abaixo como só acontece com quem é genuinamente feliz apenas pela graça da vida. O meu pai era alegre, era um exemplo de coerência, de trabalho e de grandeza. Também era intolerante. Sim, era muito intolerante: não admitia desonestidades, não admitia injúrias e odiava o sarcasmo. Era genuinamente bom. Não via maldade nos outros (com honrosas excepções em alguns políticos) e facilmente cedia para evitar o conflito, o ódio e a agressividade. Só tinha orgulho dos seus valores e da sua família, em tudo o resto era humilde.

O meu pai nunca conheceu os meus professores, também não me ensinou a andar de bicicleta, não me levava ao médico e não me lembro de me ter lido histórias à noite. Lembro-me que me pedia muitas vezes a opinião para me conhecer melhor e lembro-me que as raras vezes que se zangou comigo foi por coisas sérias que têm a ver com a formação de carácter. O meu pai era o suporte da minha mãe e os dois eram o nosso suporte.

Sei que os pais de hoje são diferentes do meu pai. Aos pais de hoje pede-se que vão à escola às festas dos filhos, que mudem as fraldas dos bebés, que lavem a loiça, que saibam escolher as roupas das filhas e que cozinhem o jantar. Os pais de hoje têm de partilhar funções que dantes eram da exclusividade das mães. O mundo mudou e nessa mudança é obrigatório que os pais também mudem. Não o fazerem é mais do que absurdo, é injusto. Mas o papel fundamental dos pais nem é esse, essa partilha de funções são uma consequência normal de uma realidade diferente. O papel fundamental do pai continua a ser transmitir amor e alegria aos filhos. Com o meu pai não aprendi a andar de bicicleta mas aprendi que numa casa onde se ri alto, onde o pai chora a rir e onde os filhos sabem que é lá que o pai gosta de chegar todos os dias, vive uma família feliz

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publicado às 11:29

O chumbo do João

por Inês Teotónio Pereira, em 17.03.15

No i de Sábado

O João andava no jardim-de-infância desde os três anos. Todos os anos, as avaliações eram excelentes: muita criatividade, talento especial para desenho, empenhado e alegre. Sabia identificar as cores, os números, algumas letras, escrevia o seu nome, o do pai e o da mãe, e já sabia muitas outras coisas. O João era feliz e os pais do João iam trabalhar descansados todos os dias. Aos seis anos, o João entrou na escola a sério. Demorou a perceber que agora era mesmo a sério. Era muito imaturo, diziam. Passou o primeiro período sem sobressaltos, mas no segundo deixou de ser o menino feliz que sempre foi. Fazia birras para ir para a escola e detestava os trabalhos de casa. Os cadernos eram um espelho da sua má disposição.

Passou para o segundo ano e a escola tornou-se ainda mais a sério. Tinha de saber mais coisas, tinha mais trabalhos de casa e os testes eram bem mais exigentes. A leitura era o seu ponto fraco: não lia à velocidade que o professor queria. Da escola, só gostava do recreio. Os trabalhos de casa ficavam vezes de mais por fazer e os pais já não iam trabalhar descansados todos os dias. O João não conseguia acelerar a velocidade de leitura e até na matemática, onde sempre teve facilidade, começava a fraquejar. Nos ditados de palavras, ficava sempre nos últimos lugares.

Os pais iam à escola regularmente e o diagnóstico era sempre o mesmo: o João não quer trabalhar, é imaturo e não está a conseguir alcançar os objectivos. Precisa de mais apoio e de mais trabalho. O João era o primeiro filho e os pais pensavam ingenuamente que era na escola que se encontravam as estratégias para motivar os meninos como o João. Eles não tinham muito tempo para lhe dar explicações e, as poucas vezes que tentaram, perceberam que não tinham qualquer talento para ensinar. Aqueles minutos em que se sentavam com o João para o ajudar a estudar eram os piores das vidas de cada um deles. Perante este cenário, a pressão da escola e a frustração do João, resolveram esticar o orçamento familiar e, em vez de irem ao cinema e à marisqueira do bairro, contrataram uma explicadora. Quinze euros à hora, três horas por semana.

O João melhorou, mas também a explicadora se queixava de que ele não lia à velocidade exigida para a idade. O melhor era pedir um relatório a um psicólogo. Mais 150 euros. O João não acusou nada de especial. Apenas que não sabia pronunciar bem os “l” e os “lh”. A sua vida era a escola e os pais só lhe falavam das notas, dos trabalhos de casa e dos castigos que lhe aplicariam se ele não atingisse os resultados. No entanto, o João falhou os testes intermédios do segundo ano e o professor avisou os pais de que ele ia repetir o ano. O João chumbou. O João faz parte dos 150 mil alunos que chumbaram naquele ano. Simples: o João era imaturo e, por mais que tentasse, não conseguia desvendar o som das letras à velocidade que o professor queria. E pior: ninguém lhe dizia como. Apenas o repreendiam e repetiam as mesmas explicações, como se o problema dele fosse auditivo.

Não, a culpa de o João chumbar não foi dele. E também não foi dos testes nem das avaliações que tantos conseguiram ultrapassar. O João só chumbou porque não conseguiu aprender. E ele só não conseguiu aprender porque não o souberam ensinar. Enquanto, nas escolas, não existirem estratégias diferenciadas conforme os alunos e as dificuldades e enquanto se ensinar para a nota em vez de se ensinar para os alunos aprenderem, haverá sempre mais chumbos. E a solução não está em acabar com as avaliações ou com os exames. A solução está em analisar os exames e as avaliações como verdadeiras provas para os professores e para as escolas, de modo a que se consigam encontrar planos para responder aos milhares de meninos como o João. Os alunos só falham porque alguém anda a falhar com eles. Sim, o João chumbou, mas quem falhou foi a escola.

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publicado às 11:05

Jogo de futebol

por Inês Teotónio Pereira, em 11.03.15

 

Publicado no i de sábado 

 

O assunto é sério: é dia de jogo. As equipas alinham-se no relvado, a cantoria do hino é dispensada, mas os cumprimentos aos adversários são solenes. Os pais acomodam-se na bancada de pedra e não tiram os olhos dos filhos. O árbitro apita e o desafio de 40 minutos começa. O meu filho tenta chutar a bola mas dá um pontapé no ar. Rio-me, mas os outros pais lançam-me um olhar de desprezo pela minha insensibilidade. Ok. Isto é a sério. Encolho-me timidamente. A barafunda no campo é enorme. Os jogadores correm todos atrás da bola sem ordem e o mister grita que é preciso manter as posições. Dificilmente se percebe quem está à defesa ou ao ataque. Às ordens do mister a equipa disciplina-se mas a bola insiste em sair das quatro linhas. As crianças não levantam cabeça nem se incomodam com a chuva que cai com intensidade. Os pais muito menos. De repente um miúdo pequenino sai do meio da confusão com a bola nos pés e corre em direcção à baliza contrária. Os pais entram em delírio: “Leva! Leva!” A criança obedece e leva o esférico até ao outro lado do campo. Está isolada, só tem um guarda-redes minúsculo pela frente, mas falha a baliza. Os pais disfarçam a desilusão e a mãe do pequenote atira em jeito de brincadeira: “Hoje não jantas!” Rimo-nos todos. A criança ignora a gracinha. Ainda está zero a zero e o mister não mexe na equipa. A bancada agita-se. É preciso fazer qualquer coisa porque os adversários “têm qualidade técnica” e assim perdemos. Correcto. Os pais têm sempre razão e percebe-se pelos festejos que é marcado um golo lá ao fundo.

Acabam as risadas e começa a análise. Ouve-se que a equipa adversária é “interessante” e que o mister não responde à exigência do desafio. “Muda a defesa, pá!” “Não vês que os miúdos estão cansados?!” Os miúdos, esses, nem olham para os pais. Têm os olhos no esférico e o coração aos saltos. No meio do campo um rapaz cai. Queixa--se da perna. As atenções passam do mister para o árbitro. Por enquanto nada de palavrões, ele é apenas acusado de “palhaço” e de “cego”. É livre a nosso favor. O rapaz arrisca a baliza e marca golo. Não se percebe como, porque a bola passou por meia dúzia de crianças que a desviam na tentativa de defender mas acabam por confundir o pobre guarda-redes. O autor do primeiro golo dá um salto estilo CR7 e é abraçado pelos colegas. Acendem-se cigarros na bancada e as mães gritam palavras de encorajamento.

O meu filho corre atrás da bola sem sucesso até que por mero acaso ela lhe cai aos pés. O meu coração pára. Os pais gritam o seu nome: “Leva! Leva!” Levanto-me com orgulho. É agora. Passa um, passa outro, está quase a chegar à baliza quando tropeça e deixa a bola fugir. Ops… Sento-me. Os outros pais também. Finalmente intervalo com empate. Trocam-se os campos e o mister mexe na equipa. Na bancada analisa-se detalhadamente a primeira parte do jogo entre uma e outra cerveja. Os jogadores partem ao ataque. Os golos sucedem-se de um lado e de outro. Perco-lhes a conta e deixo de perceber quem está a ganhar. A gritaria sobe de tom, os insultos de intensidade e a semelhança entre aquele grupo de pais e qualquer outra claque profissional não é coincidência. No fim do jogo percebo que perdemos. “Isto não pode continuar! Ou o gajo percebe que tem de escolher os melhores quando são jogos a sério ou não estamos aqui a fazer nada! Por isso é que este país não anda para frente: não se levam as coisas a sério!”

 De seguida vamos todos para a porta dos balneários esperar pelos filhos. Do mister não há sinal e do árbitro muito menos. Um a um os jogadores vão saindo radiantes por terem passado uma manhã a jogar à boa. Não se fala mais do jogo. A multidão dispersa com a garantia de que para a semana há mais. Ponho o braço à volta do meu filho e pergunto-lhe se gostou. “Sim, sim! Mas fomos roubados!”
Saí dali com pena do mister e do árbitro. Nenhum deles tem um sindicato que os proteja ao estilo da FENPROF, nem os filhos uma associação que os defenda dos pais. Saí dali a pensar como seria o país se nas escolas houvesse este empenho dos pais. Sim, como seria o país se a escola fosse levada tão a sério como são levados os jogos de futebol de fim-de-semana? Para a semana há mais.  

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publicado às 13:11

O genial António Costa

por Inês Teotónio Pereira, em 05.03.15

No i de sábado 

 

Ninguém sabe bem o que António Costa pensa sobre o país, a Europa, a Grécia, o ajustamento, a política social, a vida, enfim. Mas não é por isso que António Costa deixa de ser genial. Aliás, o génio de António Costa é mesmo esse: apostar tudo na imagem e nada no conteúdo. Ora, este génio socialista lembra um dos meus filhos. Este meu filho não estuda nada mas tem a imagem de bom aluno. Não fala muito mas como tem um sorriso encantador é considerado muito bem-educado. É muito reservado e por isso todos o respeitam. No entanto, a verdade é que o miúdo só quer sossego e tem um sorriso cativante. Ponto. Ou seja, a imagem dele não diz o essencial sobre ele e só lhe tem trazido vantagens.

O meu filho, no entanto, tem um problema que António Costa não tem: o rapaz é escrutinado regularmente. Ou seja, por mais que ele insista em manter-se resguardado, ninguém o deixa. O desgraçado está sempre a ser avaliado, a receber ordens dos pais e, quer queira quer não, é obrigado todos os dias a dar-se a conhecer ao mundo. O meu filho invejaria António Costa se soubesse quem é António Costa. É que António Costa faz o que lhe apetece não fazendo nada. E isto é o sonho de qualquer adolescente. Costa só tem de sorrir e de aguentar a pressão da revelação como se faz nos concursos para Miss Mundo, em que só no dia da eleição é que a vencedora se atreve a desvendar o que pensa sobre os problemas do planeta. Elas, tal como Costa, sabem que podem deitar tudo a perder se abrirem a boca antes da eleição.

Costa tem a sorte de ninguém o chatear. Nem mais velhos, nem mais novos, nem jornalistas, nem comentadores. A imagem chega e o tempo é escasso para gastá-lo a falar de política, de economia e de coisas chatas. Ora, isto numa primeira análise parece-me injusto quer para os jovens como o meu filho quer para com todos os outros políticos e figuras públicas que não têm uma imagem enigmática. Por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa. É certo que o país nutre de uma certa ternura pelo Professor. Mas é essencialmente isso. Estamos a falar de um professor universitário, de um intelectual, de um político experiente, de um jornalista que fez história que tudo fez para alcançar o estatuto de génio. E no fim o que leva em troca? Tem graça. Foram anos e anos ao serviço da causa pública, da academia, para que tudo se resuma a uma palavra: graça. Injusto. E só por causa da imagem. Imaginemos que o Professor era mais recatado, que não falava tanto e que era contido em matéria de gesticulação. Sim, não tenho dúvidas que em vez da TVI o Professor estaria em Belém.

Mas esta semana António Costa foi apanhado. O líder do PS cometeu o erro de palmatória para quem aposta tudo no embrulho e nada no conteúdo: falou. Para chineses, é certo, mas falou. Sem saber que estava a ser filmado disse que o país estava melhor do que há quatro anos. O país ficou perplexo: afinal Costa é simpatizante do Governo. O líder do PS numa tentativa de dar o dito por não dito, arranjou uma desculpa do tipo fumei mas não inalei dizendo que uma coisa é defender que as coisas correm bem e outra é dizer que o governo é bom - como se as coisas pudessem correr bem apesar dos governos. Enfim, não se percebeu se Costa queria mentir aos chineses ou se Costa acha mesmo que o Governo é bom. Tenho o mesmo em casa: cada vez que o meu filho é apanhado mete os pés pelas mãos. Só que ele não se espanta quando é apanhado, fica apenas envergonhado e hiberna novamente. António Costa cometeu o erro de dizer o que pensa arriscando o único activo que tem: a imagem. Moral da história: se o secretário-geral do PS continuar a falar arrisca-se a voltar a comentador; já o meu filho arrisca-se a chegar a líder do PS.

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publicado às 13:17

O exemplo CR7

por Inês Teotónio Pereira, em 02.03.15

No i

 

Cristiano Ronaldo deu uma entrevista a Marcelo Rebelo de Sousa onde explica que a pobreza em que cresceu e o que sofreu não foram empecilhos à sua carreira. Diz ele que as oportunidades se criam e que não há sucesso sem trabalho. Marcelo contrapôs com o facto de Cristiano Ronaldo ser um génio e por isso o seu exemplo não poder ser seguido por todos os que não nasceram geniais. Este comentário do professor resume todo o equívoco português, o equívoco segundo o qual as circunstâncias são determinantes em tudo. Ou seja, a pobreza, o azar e a falta de oportunidades são consideradas fatalidades que condicionam determinantemente o sucesso de cada um. Por isso, dentro desta lógica, são as circunstâncias que devem mudar e não a atitude que se deve ter para as superar. Cristiano Ronaldo não se ficou com o comentário do professor e argumentou que nunca a falta de oportunidades lhe serviu de desculpa e quem se desculpa com elas é porque não ambiciona verdadeiramente ultrapassá-las. Respondeu que todos temos de nos superar e dar o melhor que temos e podemos. Competir com nós próprios é a estratégia certa, diz o futebolista.

Os meus filhos também se queixam das circunstâncias da vida. Apesar de terem uma vida fantástica, de terem nascido numa família alargada e solidária e de nunca lhes ter faltado nada, eles queixam-se. Queixam-se dos professores, do excesso de trabalho, das horas a que se levantam e das horas a que vão para a cama. Queixam-se da piscina que não têm, das viagens que não fazem ou do cão que lhes falta. Há sempre qualquer de fora que condiciona a sua felicidade. Há sempre uma circunstância que os impede de serem mais felizes. Os meus filhos, tal como o Cristiano Ronaldo, também andam no futebol. Têm treino três vezes por semana e jogos ao fim-de-semana. Mas, ao contrário do Cristiano Ronaldo, resistem a ir ao treino cada vez que chove, quando está mais frio, quando têm trabalhos em excesso ou quando estão cansados. Vivem de certa forma desiludidos porque queriam ser génios da bola mas não há olheiro que lhes tenha dado uma olhadela. Por isso esforçam-se q.b. E é neste q.b. adormecido que vivemos todos. O quanto baste, basta. As metas são feitas pelas circunstâncias e não pelas capacidades de cada um.

O país sofre deste mal e vai-se anestesiando na crítica às circunstâncias, ao sistema, à cultura, etc. Encostando-se à teoria de que nada depende de nós mesmos mas sim de uma entidade abstracta, de uma lei que não mudou, de um dinheiro que não chega e de um sistema caduco. E enquanto nada disto mudar ninguém pode mudar. O atira culpas é um desporto nacional mais popular que o próprio futebol. Mas se é assim no país, nas famílias o clima é idêntico. Os alunos não são bons alunos porque têm maus professores e os professores não são melhores professores porque a educação dos alunos é má. Os pais culpam os professores pelo resultado dos filhos, culpam a televisão pela falta de educação dos filhos e culpam a sociedade, o Estado ou a Europa pelo futuro incerto dos filhos. Nada depende verdadeiramente dos próprios filhos e pouco depende deles próprios. Os pais passam a maior parte do seu tempo preocupados com as circunstâncias, com as condições de vida que devem dar aos filhos e com o conforto que lhes devem proporcionar. Sim, é legítimo que assim seja, e é bom que esta seja uma das preocupações cimeiras de qualquer pai ou mãe. Mas esta preocupação anula todas as outras. Anula a exigência de esforço apesar do conforto, a exigência de trabalho apesar das facilidades e a exigência de responsabilidade apesar da falta de autonomia. E também anula tudo isso quando não há conforto ou facilidades.

No país e nas famílias o que interessa não devem ser as metas mas sim o esforço de cada um por dar o seu melhor em todas as circunstâncias. Sejam as condições favoráveis ou desfavoráveis, sejam as oportunidades muitas ou poucas. E este é um bom começo para mudar as próprias circunstâncias. Aliás, é o único começo possível. Cristiano Ronaldo fez exactamente isto quando tinha 12 anos e não tinha um tostão no bolso. E hoje faz o mesmo apesar de adulto e ter mais dinheiro que que o PIB de muito países. O grande exemplo de CR7 não é o seu génio futebolístico, mas sim o percurso que fez apesar das malfadadas circunstâncias

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publicado às 14:47

Manifesto por um manifesto

por Inês Teotónio Pereira, em 20.02.15

Crónica de sábado no

 

Esta crónica não é para ser lida por pais perfeitos. Com este texto dirijo-me apenas a uma pequena minoria de pobres de espírito como eu: os pais imperfeitos. É a estes que me dirijo, num gesto solidário e amigo, na pretensão de ampliar a nossa voz e na esperança de que a nossa circunstância de pais imperfeitos não continue a ser escamoteada do debate público. Falo a todos os pais que tal como eu se angustiam quando abrem a mochila ou um caderno dos seus filhos, que tremem quando chega um email da escola, que se esquecem da data das vacinas, dos testes ou de comprar legumes para sopa, que gritam e utilizam as palmadas como recurso educativo, que não sabem responder às perguntas dos filhos, que não lêem com assiduidade histórias infantis, e falo ainda a todos aqueles pais que não cortam as unhas dos filhos com a regularidade que o crescimento das unhas exige. Sim, nós sofremos. Sofremos com as nossas limitações e sofremos com a indiferença do mundo ao nosso drama.

Caríssimos, é preciso reclamar justiça e a justiça que se impõe é a reposição do direito à imperfeição que deixou de fazer parte dos valores humanos que regem as sociedades ocidentais. Poder ser imperfeito é um desafio que não dispensa manifestos. Nós não podemos ser culpados pelo vertiginoso crescimento das unhas dos nossos filhos. Não podemos ser julgados pela fertilidade dos piolhos que se multiplicam nas cabeças dos nossos filhos. Não podemos ser segregados por não decorarmos as datas das vacinas e muito menos podemos ser considerados cidadãos de segunda por sermos desajeitados nos trabalhos manuais, por não sabermos mascarar os nossos filhos no Carnaval, por termos a máquina fotográfica cheia de fotografias por imprimir, por não sabermos quando é que cada um deles começou a andar e a falar, por não respondermos a tempo aos convites para as inúmeras festas, por comprarmos bolos em vez de os fazermos ou por termos filhos adeptos do Sporting.

Basta de segregação, reclamo. Sim, é verdade não me lembro do teorema de Pitágoras e também é verdade que nunca percebi o que aconteceu no tumultuoso século xix, mas sou um ser humano. Um ser humano que vive num mundo que não reconhece a minha imper- feição, não se conforma com a minha ignorância e não tolera a minha frágil negligência.

Nós, caros pais imperfeitos, somos postos à prova todos os dias e todos os dias caminhamos em busca da perfeição num esforço que não vê merecimento. É, por isso, fundamental exigir o reconhecimento do nosso trabalho. É urgente a mobilização e urgente a denúncia da injustiça. Nós estudamos como nenhum pai perfeito estudou, nós viramos as nossas casas do avesso à procura dos pares das meias e no meio da nossa trapalhice não encontramos sequer disponibilidade para fazer tranças às nossas filhas. Nós nem sabemos cantar as músicas da Violetta, meu Deus! Mas há um esforço. E é esse esforço, na afinação que procuramos, na arrumação que ambicionamos, que deve ser reconhecido, valorizado e até, porque não, gratificado. Pois, nós, ao contrário dos pais perfeitos, trabalhamos a sério. Trabalhamos e tivemos a coragem de ser pais apesar das nossas gritantes limitações. Apesar dos piolhos, das unhas, das meias e de tudo o que nos é exigido, assumimos a paternidade. Sem medo, com a coragem dos incautos e com a esperança dos homens de fé.

Nós não reclamamos perdão de dívida, não exigimos menos austeridade e muito menos reivindicamos a paz na Ucrânia. Apenas pedimos que os ilustres destes país, os senadores do regime, os doutos e sábios que assinam regularmente manifestos, olhem para nós, nos dediquem algumas linhas e despertem a opinião pública para o nosso drama. Nós também queremos fóruns e também merecemos pelo menos um manifesto. Somos apenas um grupo de pais, é verdade, incompetentes, é certo, poucos, sim, mas nem por isso deixamos de ser portugueses e europeus como todos os outros.

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publicado às 15:26

Amor é

por Inês Teotónio Pereira, em 11.02.15

- Eu gosto de acordar mais cedo porque assim sou o primeiro a ver a mãe.

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publicado às 12:13

O Syriza em minha casa

por Inês Teotónio Pereira, em 10.02.15

no i de sábado

 

Quando o Syriza venceu as eleições pressenti que havia qualquer coisa de infantil no novo governo e, depois de uma semana a acompanhar a tragédia grega, cheguei a uma conclusão: mais que as promessas, o que é verdadeiramente infantil nos dois personagens que têm transformado os nossos telejornais em programas de animação é o estilo. Um estilo verdadeiramente infanto-juvenil.

Por exemplo, o meu filho mais velho é violentamente contra as gravatas e contra tudo o que sejam formalidades. Nem no Natal lhe consigo enfiar uma gravata no pescoço porque ele defende que a sua liberdade e identidade própria não se adequam ao uso de uma fútil gravata. Camisas só as usa abertas e calças quanto mais largas melhor. Ou seja, este meu adolescente acha que a sua imagem é uma doutrina e, em nome dos princípios, não se verga a futilidades. Já um dos meus filhos mais novos também vai revelando a sua veia do helénico Syriza nas birras que costuma fazer. Ameaça regularmente fugir de casa quando é contrariado e chega mesmo a sair, mas - e é isto que o torna maravilhosamente igual aos governantes gregos - fica do lado de lá da porta à espera que alguém o vá buscar. Como ninguém vai nem cede - ou a minha casa seria uma verdadeira anarquia -, ele volta a entrar envergonhado e vai para o quarto chorar.

Tenho outro filho "syriziano", que tem como arma predilecta para levar a água ao seu moinho o paleio. Discute tudo, e chega mesmo a explicar detalhadamente porque é que tem direito a ir para cama mais tarde que os irmãos com argumentos que fazem todo o sentido mas impossíveis de aceitar. Nós ouvimos a criança, explicamos várias vezes que não pode ser, mas ele só se cala quando ouve um redondo e alto "não". A minha filha, essa, sendo menina, é sorna. Consegue moer-me o juízo reclamando sempre com o mesmo tom de voz fininho/estridente, e também só se cala quando ouve um redondo "não". Esta nem se dá ao trabalho de argumentar: repete a mesma coisa vezes sem conta, chora com uma facilidade arrepiante e aposta tudo na sensibilidade de quem está do outro lado.

Só em dois dos meus filhos é que não encontrei vestígios de Syriza. Um deles faz o seu caminho sem dar confiança a ninguém. Refila e contesta pouco e só quando está verdadeiramente entediado é que embirra. E embirra a sério. Este meu filho é mais do estilo britânico. Quanto ao bebé, que passa os dias a fazer asneiras, a partir molduras, a comer comandos de televisão, a cair dos sofás, a roubar tangerinas e peras e no fim de tudo isto pede colo e beijinhos, identifico no espécime humano de um ano e meio todos os governos gregos até à chegada do Syriza - o que revela que até em minha casa o PASOK é minoritário.

É por causa desta faceta infanto-juvenil que o Syriza é cativante. Num mundo onde estamos habituados a ver gravatas em vez de pessoas, formalidade bacocas, discursos redondos sobre deflação, taxas de juro e outras coisas chatas, o Syriza aparece em mangas de camisa ou de casaco de cabedal, na sala dos mais velhos, a falar alto, a comer de boca aberta, com os pés em cima da mesa e sem medo de nada. É bonito. E também oferece esperança. Diz que as suas convicções são baseadas na esperança. Jura que vai correr bem e que agora é que vai ser. Tal e qual os meus filhos: cada vez que aparecem com negativas, e perante a ameaça de castigo, juram que agora é que vai ser.

Num mundo em ebulição, da Crimeia à Nigéria, do Médio Oriente a Paris, com o petróleo a cair e a União Europeia em agonia, aparece o grande Syriza, gingão em cima das suas botas pretas, de sorriso maroto, num estilo jovem e suburbano, a desafiar todos os dilemas com a altivez de quem sabe o caminho que ninguém descobriu. Os meus filhos também são assim. Só que eles têm uma mãe e um pai que lhes dão de comer. Já o Syriza, em vez de pais tem a Angela Merkel e o seu estilo e atitudes podem causar grandes estragos, quer na própria casa quer em casa dos vizinhos. Sim, o Syriza tem o seu encanto infantil, mas todo esse encanto pode tornar-se um pesadelo quando se brinca com coisas sérias. Pois a irreverência e o estilo são no fundo e apenas detalhes.

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publicado às 17:51

Eu coelha me confesso

por Inês Teotónio Pereira, em 05.02.15

 

No i de sábado

 

Esta crónica está atrasada uma semana: esta semana já ninguém fala de revoluções na Igreja motivadas pelas declarações do Papa nas Filipinas. Mas a culpa não é minha, o concerto da Violetta foi a semana passada e não controlei o impulso de escrever sobre o fenómeno. Posto isto, passemos ao Papa. Disse o Papa: "Alguns pensam, e desculpem o termo, que para sermos bons católicos temos de ser como coelhos. Mas não." Esta declaração, e a utilização desta linguagem, foi notícia em todo o mundo. E foi notícia por duas razões: a primeira, porque ninguém sabia que a Igreja considera irrelevante o número de filhos das suas ovelhas e que a quantidade não diz nada sobre a qualidade de um católico; a segunda razão, porque se adivinhou que vinha daí uma viragem dos princípios e que agora, com o Papa Francisco, os preservativos passariam a ser distribuídos nas igrejas. Mas nada como esperar uma semana para se perceber que afinal as notícias é que são a verdadeira notícia.

Quanto à primeira razão, a história dos coelhos, o que o Papa Francisco fez, falando a propósito de uma filipina que vai a caminho da oitava cesariana pondo em risco a sua vida, foi dizer o óbvio. Ter filhos não é sinónimo de nada espiritualmente relevante e muitas vezes é até sinónimo de irresponsabilidade. Considerar isto uma novidade doutrinária revela que os preceitos e preconceitos que existem nos católicos e sobre os católicos são muitos e alguns deles estão mesmo cristalizados.

É claro para toda a gente que me conhece minimamente que eu não tenho nada de Madre Teresa de Calcutá, apesar de ter seis filhos, e quem me conhece melhor sabe perfeitamente que os meus seis filhos, em vez de me levarem à santidade, levam-me mesmo a pecar várias vezes ao dia em pensamentos, actos e omissões (basta passarem em minha casa num fim de tarde ou no fim de umas férias para o confirmarem). Graças a Deus que tenho a noção de que Deus não me tem em melhor consideração do que a uma mãe de um só filho. Mas é verdade que nem toda a gente pensa assim. Muitos não-católicos acham que os católicos que controlam a natalidade são hipócritas e os aqueles que têm muitos filhos beatos; já os católicos acham que vivem em pecado por não terem os filhos que "Deus quiser" e consideram os pais de famílias numerosas verdadeiros modelos de virtude.

Foi preciso o Papa falar de coelhos para que todos percebessem que estavam errados. Não foi preciso rever o catecismo ou publicar novas encíclicas, bastou uma frase e um estilo diferente.

A segunda razão que fez com que esta frase fosse notícia foi considerar que a Igreja estava a revogar toda a sua doutrina sobre a contracepção. Rapidamente se percebeu que não. E percebeu-se ainda que, não sendo incoerente a frase do Papa com a posição da Igreja face a este tema polémico, quer dizer que as razões que levam a Igreja a não incentivar, aceitar ou defender os métodos contraceptivos nada tem a ver com o número de filhos mas sim com a questão da conduta e vivência sexual defendida pelas várias encíclicas.

Nada de novo. A única novidade é o estilo que vai desvendando coisas antigas. E é aqui que o papa Francisco está a fazer a grande revolução: traduzir a Igreja e revelar a sua essência. Explicar que a Igreja não julga, apenas acolhe, e que não existem categorias de católicos, de crentes ou de não crentes: somos todos pecadores e somos todos boa gente. Se se quiser fazer uma tabela, o número de filhos não é certamente uma variável a ter em conta.

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publicado às 13:04

A Violetta e os ídolos dos nossos filhos

por Inês Teotónio Pereira, em 29.01.15

No i de sábado 

 

Não sei se estão estudados os ingredientes que são precisos para se ser ídolo infantil, mas a verdade é que nos últimos anos desenhou-se um padrão entre Hannah Montana, Britney Spears, Justin Timberlake, Justin Bieber, One Direction e agora a Violetta. Todos eles moveram multidões e juntaram pais e filhos em cantorias dentro do carro, nos concertos e na compra de todo o tipo de produtos que exploram e bem a imagem dos respectivos artistas. A grande novidade face aos ídolos das gerações anteriores, em que os jovens arrancavam cabelos e desmaiavam quando ouviam e tocavam nas estrelas de rock, é que a idade dos fãs diminuiu substancialmente. Agora os fãs são as crianças, o público das maiores estrelas tem menos de 12 anos. Quem hoje conseguir conquistar o coração de uma criança até aos 12 anos tem o sucesso garantido. Os jovens não dão metade do rendimento e os adultos estão cada vez mais segmentados. As crianças, por sua vez, têm duas vantagens imbatíveis: são fáceis de cativar quer visual quer musicalmente e têm um financiador muito mais generoso e ilimitado que o BCE: os pais. Os pais pagam o que for preciso para ver o filho sorrir e para satisfazerem os seus caprichos, mesmo que eles durem apenas um ano lectivo. Só se é pai uma vez e já se sabe que é difícil dizer "não" a uma criancinha amorosa que sabe de cor as músicas da Violetta e que ainda por cima faz as coreografias exemplarmente. Por isso, conquistar o coração de uma criança até aos 12 é o mesmo que conquistar o coração dos pais e os respectivos cartões de crédito.

Todos estes ídolos infantis perceberam isso: falaram directamente para os miúdos através os canais infantis e deixaram que fossem as crianças a fazer as birras, as coreografias e a convencer os pais dos seus talentos. Uma vez mordido o isco, o resto torna-se cada dia mais fácil: multiplicam- -se os fãs ao ritmo do marketing fácil até que a moda se transforma em fenómeno. Todos estes ídolos tiveram o brilhantismo de conseguir fazer este bypass aos pais e no fim ainda lhes pedir dinheiro. A Violetta leva 75 mil pessoas ao Meo Arena este fim--de-semana, houve filas de horas para comprar bilhetes e houve até quem comprasse bilhetes por 500 euros. Só que dessas 75 mil pessoas pelo menos um terço são pais, o dinheiro é todo deles e não foi preciso gastar um tostão para os convencer a gastá-lo. Apenas precisaram de convencer os filhos. Nada de novo.

Nada disto tem mal nenhum, apenas revela uma coisa: entre nós e os ídolos dos nossos filhos não está ninguém. Da Violetta à Hannah Montana, de Britney Spears a Justin Timberlake, nós pais somos essencialmente financiadores e motoristas.

Se é bom ou mau os nossos filhos de sete e oito anos terem estes ídolos tão cedo, não sei, nem ponho em causa o talento de cada um deles. Sei apenas que cada vez mais os pais têm menos influência nas paixões e nos gostos dos filhos e que estes fenómenos, que nascem apesar de nós, fazem com que os nossos filhos sejam adolescentes bem mais cedo do que a idade da adolescência. Com apenas oito anos, as nossas crianças entretêm-se com séries que não são mais do que telenovelas e deliram com modelos que há uns anos só despertavam interesse em raparigas de 14 anos. As Cindies e as Barbies ganharam vida e em vez de brincarem às bonecas as nossas filhas mais pequeninas sonham agora com romances e com desgostos de amor.

Tudo isto seria natural se os mesmos pais tivessem a mesma coerência no que diz respeito à liberdade, à segurança, ao sucesso e ao futuro dos seus filhos. Mas não. Se por um lado não se importam que as suas crianças tenham os ídolos que elas bem entenderem e que os escolham antes de terem idade para irem para a escola sozinhas, por outro lado não as deixam subir às árvores, vivem obcecados com a influência que a música "Atirei o Pau ao Gato" possa ter no desenvolvimento das suas crias - não vão elas atirar paus aos gatos por causa da música - e receiam que o cigarro do Lucky Luke possa instigar os petizes a viciarem-se no tabaco. A falta de controlo nos ídolos dos nossos filhos equilibra-se com o exagero no controlo de coisas inócuas. Porquê? Também não sei. Mas enquanto este paradoxo não se resolve resta-nos esperar para ver em que modelo sexual a Violetta se vai tornar, cumprindo a tradição da clássica Britney Spears e da irreconhecível Miley Cyrus.

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publicado às 10:45

Salman Khan diz que é preciso virar as salas de aula ao contrário e sugere que, em vez de os alunos passarem muito tempo a fazer trabalhos de casa, em casa, devem fazê-lo na escola — é lá que os problemas devem ser trabalhados e isso permite que ganhem o seu próprio ritmo junto dos outros.

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publicado às 18:22

Momento Correio da Manhã

por Inês Teotónio Pereira, em 22.01.15

Segundo o meu filho de sete anos, Ronaldo acabou com Irina porque, e passo a citar, "ela é feia". 

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publicado às 18:15

Tolerância com a maldade

por Inês Teotónio Pereira, em 22.01.15

No i de sábado

 

Esta semana descobrimos uma série de coisas: descobrimos que existia um jornal satírico chamado "Charlie Hebdo", descobrimos que Ana Gomes é eurodeputada e tem conta do Twitter, descobrimos que existe um grupo terrorista muçulmano chamado Boko Haram na Nigéria que usa meninas de dez anos como bombistas suicidas e que matou dezenas de pessoas num mercado, descobrimos que existem líderes muçulmanos que consideram blasfémia fazer bonecos de neve e outros (ou os mesmos, já não sei) que acusam as mulheres que usam perfume de prostitutas e, por fim, descobrimos que existe uma editora inglesa que pediu aos seus autores que se moderem na utilização da palavra "porco" e derivados nos seus livros infantis para não susceptibilizar ou ofender muçulmanos e judeus. Também esta semana fomos Charlie, depois fomos Charlie, mas..., avançamos para um estádio em que os Charlie afinal são os outros e acabámos com a suspeita de que os Charlie não são flor que se cheire e que o melhor (e mais simples) é ser Tanaka, Ronaldo, coleccionador de borboletas ou defensor do lince da Malcata. Foi portanto uma semana carregada de emoção, informação e algum sobressalto. Não estamos habituados a isto. 

No final percebemos que o mundo não mudou, que os terroristas continuam terroristas, que o "Charlie Hebdo" continua a pôr Maomé na capa e que Ana Gomes ainda tem seguidores no Twitter. Afinal não vale a pena tanta emoção. Se sexta-feira passada o mundo era Charlie, esta sexta já é novamente cínico. Se na semana passada Hollande podia declarar guerra ao Iémen que toda agente aplaudia, esta semana já se critica o "Charlie Hebdo" por ter voltado a provocar os radicais jihadistas.

Nada de novo: o tempo move montanhas e resfria as emoções. Também no dia 12 de Setembro de 2001 não havia alma ocidental que não quisesse a "guerra contra o terror", no 12 de Março de 2004 não nos passava pela cabeça que 11 anos depois tivéssemos dificuldade em lembrar o nome da estação madrilena onde morreram barbaramente quase 200 pessoas e mais de 1700 ficaram feridas e, quanto aos atentados de Londres, a memória levou-os. A história repetiu-se com os assassinatos no "Charlie Hebdo": há uma semana tudo parecia muito pior do que hoje e daqui a meia dúzia de anos nem vai parecer assim tão mau.

É verdade que Portugal é um oásis na Europa e que neste cantinho é fácil ser Charlie e não ser porque no dia seguinte a única coisa que muda é o nosso estado no Facebook. Não temos escolas judaicas, não temos bairros do tamanho de cidades onde vivem apenas muçulmanos e onde a polícia ou os assistentes sociais têm medo de entrar e o nosso xeque David Munir é mais sensato e sereno que muitos líderes cristãos. Por isso em Portugal é fácil não ter convicções. Aliás, é muito mais fácil do que tê-las.

Nós estamos habituados a ver estes acontecimentos macabros sentados no balcão e por isso somos peritos em "mandar bocas", como os velhos dos Marretas e com a mesma emoção com que assistimos a filmes de acção. Somos peritos em análises ocas e emocionais. Apenas ocas e emocionais. Mas o que esta semana demonstrou, assim como todas as outras tragédias desde o 11 de Setembro demonstraram, é que a emoção sem convicções não tem qualquer sentido; é como o fumo sem fogo e as emoções, tal como o fumo, desvanecem- -se num abrir e fechar de olhos.

Não é fácil ser contra o terrorismo sem cedências. É mais fácil achar que todos os actos macabros têm uma justificação e que o problema principal está nas motivações: desemprego, estado social, políticas de imigração, pobreza, cultura, blasfémia, etc. Assim, com este raciocínio cómodo, rapidamente chegamos à conclusão de que só mudando o mundo o conseguimos melhorar e, de caminho, erradicar o terrorismo. Mas não, a maldade não pode em caso algum ser relativizada e o mundo, apesar de tudo, está bem melhor do que estava há 40 ou 50 anos. A única coisa que tem piorado é que somos cada vez mais tolerantes com aquilo que não devíamos ser, ou seja, com a maldade. Basta ler os jornais dos últimos sete dias para se perceber isso.

Mudar o mundo começa por ensinar aos nossos filhos que a maldade não precisa de racionalidade para se expandir, apenas precisa de fragilidade e de ausência de resistência. "Porque é que estes terroristas fizeram isto?", perguntou-me um dos meus filhos. "Porque são assassinos", expliquei, "e os assassinos não precisam de uma razão para matar, apenas de uma desculpa." Isto foi sexta-feira passada e até hoje não registei mais perguntas.

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publicado às 14:39

O Sporting

por Inês Teotónio Pereira, em 22.01.15

- Mãe, já podemos ir jantar que o Sporting está a ganhar 2-0!
- Não querem esperar... Isto com o Sporting nunca se sabe ...
- Não!! Lá está a mãe a gozar !!

Fomos jantar . Acabámos de jantar. Sporting já está a perder.
Impossível não gozar.

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publicado às 14:35

Tive eu seis filhos e só agora é que o Papa vem dizer isto

por Inês Teotónio Pereira, em 20.01.15

Papa Francisco: "Não temos de ser como coelhos"

 

 

 

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publicado às 12:04

...

por Inês Teotónio Pereira, em 07.01.15

O meu bebé a chorar quando está doente parece a Bimby na velocidade espiga. 

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publicado às 10:49

O risco dos castigos

por Inês Teotónio Pereira, em 06.01.15

A minha crónica de sábado no 

 

Como as férias são longas e a paciência não, as relações entre pais e filhos azedam com frequência e facilidade durante esta quadra natalícia de paz, amor e harmonia. Não é fácil. As crianças estão excitadas com os presentes, com os primos e com o excesso de açúcar. Os pais estão falidos com os presentes, cansados de tudo e enjoados devido ao excesso de açúcar.

Não é fácil controlar a paciência. E foi por isso que, no outro dia, os meus filhos ficaram todos de castigo. Um castigo à antiga, coisa séria, tradicional e conservadora: durante um dia não puderam sair de casa, ver televisão, jogar consola ou mexer nos telemóveis e computador. Eles estranharam: "Já fizemos muito pior e não ficámos de castigo", reclamou um deles. Não cedemos. Os primos não vieram nesse dia, a televisão manteve-se silenciosa e tudo o que precisa de electricidade adormeceu. Restava-lhes ler, falar uns com os outros, dormir, estudar ou recorrer aos jogos de tabuleiro que vão acumulando o pó de uma década. Fizeram de tudo um pouco, mas passaram a maior parte da tarde a conquistar o mundo no Risco. Claro que eu também. Claro que este castigo me saiu caro porque me arrastou do sofá e de uma sessão da tarde para uma mesa de jantar com o objectivo de entreter cinco crianças que estão tão habituadas aos jogos de tabuleiro como ao hóquei no gelo. Claro que ganhei e, por isso, tive de jogar mais um e perder.

No dia seguinte, as crianças acordaram novamente livres. As portas de casa voltaram a abrir-se e todos os aparelhos electrónicos ganharam novamente vida. Mas a criançada voltou a sentar-se à mesa para jogar ao Risco. Do Risco passaram ao Cluedo e agora não há bola que os tire de casa nem filme que os distraia do mistério. Porquê? "Porque assim a mãe brinca connosco", dizia um deles. Apanhada.

Nós, pais e adultos em geral, gostamos muito de dizer que as crianças de hoje não sabem brincar e que não lêem, que são viciadas em televisão, que não socializam, que não têm imaginação e que são adversas a um pensamento mais elaborado porque os jogos que jogam e os programas que vêem transformaram-nos em autómatos com o cérebro atrofiado. Mas ao mesmo tempo que achamos, convictamente, tudo isto, damos-lhes telemóveis, tablets, 200 canais à escolha e consolas. E quando lhes damos um livro, procuramos a versão em filme para lhes facilitar a compreensão da leitura. Também numa viagem de carro que dure mais de meia hora, levamos as consolas para elas se entreterem em silêncio em vez de cantarem ou de passarem o tempo a repetir as matrículas. E no fim agradecemos a todos os génios da informática pelas tardes que passámos em silêncio, pelas viagens calmas e serenas e pelos fins- -de-semana harmoniosos em que a criançada está toda agarrada às novas e silenciosas tecnologias em vez de estar aos gritos, a fazer perguntas, birras ou correrias.

Não ter nada disto dá trabalho. Aquela tarde em que eu e os meus filhos ficámos de castigo foi prova disso. Fazer a vez das consolas, da televisão e dos computadores não é fácil. Tira-nos dos sofás, dos nossos computadores e das nossas televisões para sermos pais. Para ouvirmos e brincarmos com os nossos filhos, para os ensinar a jogar em vez de ser ao contrário - porque, se das consolas percebem eles, do Risco ou do Monopólio sabemos nós. O novo mundo não está mal e as tecnologias não são o Demo, o que está mal é a falta de opções que insistentemente damos aos nossos filhos: se eles soubessem que existe vida para além dos computadores e das consolas, de certeza que as listas de Natal seriam outras. Mas como os nossos fins-de-semana seriam mais barulhentos e trabalhosos, o melhor é deixar as coisas como estão e não se fala mais nisto.

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publicado às 12:11

Tenho seis crianças em casa com um adulto

por Inês Teotónio Pereira, em 18.12.14

tenho medo de ligar para lá e estou com muita pena do adulto. 

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publicado às 12:40

Ainda não comprei um único presente de Natal

por Inês Teotónio Pereira, em 18.12.14

E sinto-me bem. 

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publicado às 12:37


A Um Metro do Chão o mundo está cheio de pernas e tem de se olhar para cima para ver o céu - o que faz toda a diferença. O preto é mesmo preto e o branco é branco. As coisas são todas assustadoramente concretas e ninguém aceita argumentos, só respostas. Não é um mundo melhor, pior ou mais verdadeiro; é apenas diferente, apesar de ser o mesmo. Este blogue é sobre isso. E sobre uma coisinha ou outra que pode não ter nada a ver.

Autora

Inês Teotónio Pereira
iteotoniopereira@gmail.com
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