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As minhas mentiras

por Inês Teotónio Pereira, em 27.07.10

No i do fim-de-semana

 

Sei que não devia, mas de vez em quando minto aos meus filhos. Quer dizer, não é bem de vez em quando, é muito. É uma alegria. Sempre que posso, toma, lá vai mais uma mentira. Eu chamo a essas mentiras "mentirinhas". Coisinhas de nada. Mas é mentira: são mesmo mentiras. Ou, como dizem alguns políticos que não querem ser processados, são inverdades. 
E quais são essas mentiras? As típicas. "Ah, já venho, é só um bocadinho", mas não volto. Ou "Não há mais bolachas", mas há. Ou, as minhas preferidas - "São só mais três colheres!", e dou dez, porque eles não sabem contar.
Tudo começa por volta dos quinze dias, altura da minha primeira mentira: tiro devagarinho a mão que denuncia a minha presença, substituo por um livro a fazer peso em cima da fralda e piro-me para a sala. O bebé fica a dormir, sem desconfiar que a mão que o embala é um calhamaço do Lobo Antunes.
Ora, isto parece uma mentirinha inocente, sem mal. Mas não é: uma mentira é sempre culpada. 
O mal desta prática é que, depois de tanta mentira, dá um trabalho dos diabos educar as crianças e ensinar-lhes, por exemplo, que não se deve mentir. Além disso, mentir a uma criança não está ao alcance de qualquer um, exige criatividade, engenho e sapiência: elas têm uma memória de elefante e não se ficam com qualquer treta. 
Consola-me, no entanto, a convicção de que minto por bem (e bem). Afinal os meus filhos não precisam de saber que vou ao cinema enquanto eles vão para a cama. Dizer a verdade, no fundo, pode ser uma maldade.

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publicado às 11:41



A Um Metro do Chão o mundo está cheio de pernas e tem de se olhar para cima para ver o céu - o que faz toda a diferença. O preto é mesmo preto e o branco é branco. As coisas são todas assustadoramente concretas e ninguém aceita argumentos, só respostas. Não é um mundo melhor, pior ou mais verdadeiro; é apenas diferente, apesar de ser o mesmo. Este blogue é sobre isso. E sobre uma coisinha ou outra que pode não ter nada a ver.

Autora

Inês Teotónio Pereira
iteotoniopereira@gmail.com
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