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A primeira vez que me colaram a uma geração foi na altura em que a PGA era motivo mais do que suficiente para os bloquistas do principio dos anos 90 mostrarem o rabo aos ministros da educação. Foi à conta deles, dos bloquistas, que um socialista chamou à minha geração, geração rasca (o criativo foi o jornalista, socialista Vicente Jorge Silva, que era na altura uma espécie de Emídio Rangel de Guterres, mas raramente aparecia da televisão e muito menos na RTP N). 

Ainda hoje tenho a certeza absoluta de que o insulto não era para mim nem dirigido a ninguém que eu conheça; quase que posso jurar que Vicente Jorge Silva se referia justamente aos bloqusitas da época, que em vez de irem às aulas e depois para casa estudar para a PGA, passavam as tardes entre o café em frente ao liceu e a escadaria da Assembleia da República a mostrarem os rabos às câmaras de televisão só para chatearem o Marques Mendes, que na altura mandava na televisão, e o Dias Loureiro, que mandava na polícia, e o Ministro da Educação, que já não me lembro quem era porque estava sempre a mudar.

Tenho ideia que as manifestações dos rabos também contestavam o pagamento das propinas, porque dantes só se pagava para estudar na Católica e na Lusíada, que eram as universidades dos meninos ricos e maus alunos, ou só uma coisa ou só outra, porque não tinham entrado no Estado que era sempre a primeira escolha - o Estado sempre foi a primeira escolha de todas as gerações de portugueses.

A geração rasca ainda fez a PGA, que era canja, andou na universidade, não pagou propinas, fez os cursos do Torres Couto e da Teresa Costa Macedo onde se ganhava trinta contos ou mais vindos da CEE (a CEE dava dinheiro ao Torres Couto e à Teresa Costa Macedo para fazerem cursos de fotografia em vez de ajudar as pescas, a agricultura, as pequenas e médias empresas e o sector produtivo) e começou a ir à neve. 

A geração rasca cresceu saudável, porque quando as pessoas da geração rasca eram crianças não havia cereais de chocolate e ao pequeno-almoço comia-se pão com marmelada e leite que se fervia num fervedor (também não existiam gomas e os dentistas não distribuíam aparelhos para os dentes por tudo e por nada).

A geração rasca tirou cursos de economia, de gestão e de direito, foi trabalhar para os escritórios de advogados e para as empresas, fez contratos de trabalho, passou recibos verdes, fez biscates para ganhar dinheiro para poder sair à noite, mudou de empregos, comprou casas com os créditos à habitação da Nova Rede onde só trabalhavam homens (e não alugou casas por dois contos ou por quinhentos escudos como os pais que ainda tinham a lata de se irem queixar os senhorios porque a torneira estava pingar). Gastou dinheiro que se fartou, pagou impostos por todas as gerações passadas até aos anos 30 ou 40 e trabalhou e estudou que que nem um camelo. Ainda hoje é assim.

Quanto à música, bom, só o Abrunhosa é que adaptou um original para contestar e para vender mais discos, mais nada. Nem uma notinha.

A geração rasca, a minha, foi a melhor geração desde o final da II Guerra, no  mínimo: sobrevivemos aos direitos adquiridos da geração de cima e agora temos de aturar a lamurias da geração de baixo que reclama direitos adquiridos.   

Já a geração dos meus filhos, proponho que se comece desde já a chamar de geração que se raspa, porque se os nossos filhos não optarem por se rasparem daqui para fora, arriscam-se a ficar na terrinha a trabalhar numa coisa qualquer, que não tem nada a ver com o curso que tiraram ou com outro qualquer que exista, para pagar dívidas e para sustentar a geração à rasca que daqui a cinquenta anos ainda vai estar a mandar curriculos para a PT, a EDP, a RTP, a CP, a Galp, a CGD, a REN (entretanto, já falidas) e a ouvir os deolinda.

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publicado às 19:07


11 comentários

De a.marques a 11.03.2011 às 00:26

GERAÇÃO PÉ DE CABRA

Sou da geração do velho tostão
Calças rotas na mão
Que sede que eu tinha

Sou da geração das magras vacas
Bacalhau ás lascas meia sardinha
Que sede que eu tinha

Sou da geração de sebo no pão
Ferrar o calo na mão
Que sede que eu tinha

Sou da geração que paga a dobrar
Cá os anda a aturar
Que sede que eu tenho

Sou da geração que sacode o ranho
Que lhes serve p´ró banho
Que grande sede que eu tenho

A escola era a sacola
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GERAÇÃO PÉ DE CABRA <BR><BR>Sou da geração do velho tostão <BR>Calças rotas na mão <BR>Que sede que eu tinha <BR><BR>Sou da geração das magras vacas <BR>Bacalhau ás lascas meia sardinha <BR>Que sede que eu tinha <BR><BR>Sou da geração de sebo no pão <BR>Ferrar o calo na mão <BR>Que sede que eu tinha <BR><BR>Sou da geração que paga a dobrar <BR>Cá os anda a aturar <BR>Que sede que eu tenho <BR><BR>Sou da geração que sacode o ranho <BR>Que lhes serve p´ró banho <BR>Que grande sede que eu tenho <BR><BR>A escola era a sacola <BR class=incorrect name="incorrect" <a>P´ró</A> monte com gado <BR>Com lobos todo borrado <BR>A casa era o palheiro <BR>Á luz fosca da candeia <BR>Com feno no travesseiro <BR>

De a.marques a 11.03.2011 às 12:20

Correcção do final baralhado:

A escola era a sacola
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Correcção do final baralhado: <BR><BR>A escola era a sacola <BR class=incorrect name="incorrect" <a>P´ró</A> monte com gado <BR>Com lobos todo borrado <BR>A casa era o palheiro <BR>Á luz fosca da candeia <BR>Com feno de travesseiro <BR><BR><BR><BR><BR><BR>

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A Um Metro do Chão o mundo está cheio de pernas e tem de se olhar para cima para ver o céu - o que faz toda a diferença. O preto é mesmo preto e o branco é branco. As coisas são todas assustadoramente concretas e ninguém aceita argumentos, só respostas. Não é um mundo melhor, pior ou mais verdadeiro; é apenas diferente, apesar de ser o mesmo. Este blogue é sobre isso. E sobre uma coisinha ou outra que pode não ter nada a ver.

Autora

Inês Teotónio Pereira
iteotoniopereira@gmail.com
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