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Enrascados, por Tiago Moreira Ramalho
Parece que a minha geração está à rasca. Tal como estava a anterior e a anterior e a anterior à anterior. Não aprendeu ainda essa elementar lição: nunca deixaremos de estar, pelo menos no nosso entendimento, à rasca.
De qualquer modo, é sempre bom analisar o enrascamento da minha geração. A minha geração enrascada é a geração que produz centenas de antropólogos todos os anos, outras centenas de arqueólogos, mais uma pilha de sociólogos, três camionetas de psicólogos além dos já habituais nas artes plásticas e afins. Leitor, que não seja eu acusado de menorizar estas tão excelentes áreas do saber. Longe de mim, que sou essencialmente amigo de toda a gente. Não pode é o antropólogo querer fazer escavações no Vale do Cávado só porque sim. Não pode é o artista plástico exigir que lhe arranjem um emprego se não há necessidade de artistas plásticos. Não pode é o psicólogo querer doentes se os não há em quantidade.
A geração que está à rasca é, essencialmente, a geração que se deixou enrascar. E agora só tem um remédio: adaptar-se. Porque não vai haver doentes para os psicólogos, não vai haver institutos de investigação para os antropólogos e por aí fora. Ou é isso, ou é call center. Não é por mal, mas é mesmo assim.