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Os pais falam com os filhos de uma forma muito especial: mal. E falam mal como não se atrevem a falar com mais ninguém. A maioria dos pais não faz qualquer cerimónia com os filhos. É, assim, à vontadinha. Não há fronteiras, não há barreiras, não há maneiras. Por isso, se estamos maldispostos, os filhos que nos aturem as impaciências, as más-criações, os gritos, as ordens incoerentes, ou a alteração do horário de ir para cama. Se estamos bem-dispostos, exageramos no tratamento, no tom e deixamos que eles façam tudo, sem critério e sem sentido.
Diz-se que as crianças de hoje não têm respeito pelos pais, que antigamente "se eu falasse desta maneira com o meu pai levava uma tareia e era muito bem dada". Mas a verdade é que os pais é que começaram, os filhos simplesmente vão aprendendo com eles a ser malcriados (até isto a escola já não acompanha). O que mudou, na verdade, foram os pais, os filhos continuam a seguir o exemplo de cima.
Os pais de hoje não perceberam que estar à vontade não é estar à vontadinha. E, claro, abusam. Falam com os filhos conforme a vida e o dia lhes correu bem ou mal, conforme o trânsito, o calor, o trabalho, o dinheiro ou o Benfica. Filhos, enfim, são filhos. A cerimónia faz-se com os desconhecidos.
Até que um dia perguntamos com espanto como é que a criancinha teve a lata de bater com a porta na cara da mãe ou de dar um pontapé na canela da tia. Como é que ficou assim?! Eu nunca fiz isto à minha mãe! Ah é verdade, é a televisão. Claro que é da televisão. Só pode.