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AO CONTRÁRIO do que acontecia nos regimes absolutistas ou Idade Média, é agora que as crianças, os nossos ricos meninos, não têm qualquer liberdade. São É agora, quando já não existem enforcamentos, que as crianças se vêem privadas de um direito considerado fundamental para os seus pais: a liberdade. As nossas crianças vivem presas num mundo onde lhes é dado tudo, nada lhes é exigido, mas onde ninguém confia nelas: não fazem a cama, mas também não podem brincar fora de casa sem controlo, sem supervisão, sem uma ama-seca - como os presos quando vão apanhar ar e esticar as pernas.
À geração do milénio, que não tem nome nem idade para escrever um manifesto, foram negados direitos básicos em nome da segurança, em nome da protecção do armário dos detergentes. Foilhe recusada a liberdade de circularem sozinhos ou de brincarem com paus porque podem "vazar" um olho.
E isto é assim porque os pais desconfiam que as suas crianças são tontas, que não sabem desenvencilhar-se de ameaças perigosas como um terrível baloiço. Do ponto de vista dos pais, os filhos não têm a mínima possibilidade de escaparem ilesos a uma ida à mercearia do fim da rua, quanto mais de chegarem vivos à escola se forem a pé. (se tivesse sido sempre assim, ninguém tinha inventado o Capuchinho Vermelho).
Por outro lado, a liberdade é qualquer coisa que custa a dar quando não sabemos exactamente o que vão fazer com ela - ainda alguém se magoa, sei lá... É assim como nas ditaduras: é sempre pelo bem do povo que não há democracia - entre a segurança e a liberdade, venha a ASAE, claro.